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Resiliência psicológica ou científica, o que é?

Autor: Marco Barbosa Publicado em: 23/09/2023

Quando se pensa em uma definição de resiliência, sempre é bom se esboçar de onde veio ou surgiu este termo.

As primeiras pesquisas ocorreram ao se estudar como as particularidades de cada pessoa influenciava na superação de adversidades, e de quais eram as contribuições do ambiente relacional, psicológico e emocional.

Como o estudo foi realizado por mais de duas décadas, foi possível averiguar a história de vida de cada participante da pesquisa – da infância à vida adulta.

Esta pesquisa ainda focava demasiadamente nas vulnerabilidades de cada integrante da pesquisa.

Como era o início deste tipo de estudo, (final da década de 1950) a resiliência científica não estava devidamente conceituada.

As crianças estudadas foram descritas como invencíveis e invulneráveis ao sofrimento e dor.

Havia ali predominando, a ideia de indivíduos capazes de resistir bravamente aos desafios e estresse.

Faziam um enfrentamento das adversidades de modo que conseguiam se ajustar, ou, se adequar ao ambiente.

As autoras desta pesquisa foram as psicólogas Emmy E. Werner e Ruth S. Smith.

Esta fase ficou conhecida como a 1ª onda da resiliência – o foco estava na resistência, ajuste e adaptação.

No final da década 1970, os novos pesquisadores trazem um olhar novo para o conceito e se questiona vigorosamente a ideia central de resistência ao estresse.

Rutter – no início dos anos 80 -, adiciona o fator tempo em que o estresse permanece e argumenta que o tempo é determinante do grau do risco e do perigo.

A ideia de resiliência não é mais tida como absoluta e sim variável de acordo com o grau do risco. Era um conceito que passava a ter a variável do tempo (duração), embora, ainda, considerada como puramente genética.

Assim, ficou evidente que a ciência que estava nascendo e, agora, chamada de resiliência, não era totalmente hereditária, como se afirmou na 1ª onda.

Havia elementos ambientais que influenciavam na superação.

Por exemplo, os grupos que foram organizados para se apoiar e discutir meios de sobrevivência, dentro das prisões de Auschwitz.

Junto com Garmezy, os trabalhos de Rutter irão contribuir significativamente para os alicerces teóricos e as noções do desenho de pesquisas acerca da superação do estresse.

As pesquisas caminharam para a busca de resposta para os efeitos do estresse acumulado em um indivíduo e os fatores de resiliência possíveis de serem identificados.

Estava nascendo a 2ª onda nos estudos da resiliência.

Esta segunda onda vai se caracterizar pelas análises fatoriais de resultados comportamentais positivos ou bem adaptados no contexto diante de um ambiente adverso.

Nesse sentido estudou-se os impactos de fatores de resiliência como os clubes, a família, os grêmios, a igreja etc.

Esta 2ª onda ficou caracterizada como a fase dos fatores ambientais promotores de resiliência.

Pelos anos 90 já se encontrava bem delineada a 3ª onda das pesquisas em resiliência.

Se destacam inicialmente, os trabalhos de Edith Henderson Grotberg que organiza um projeto internacional de resiliência, em particular na África, e que inaugura as pesquisas a partir dos pressupostos das terapias cognitivas, isto é, a resiliência resultava das crenças cultivadas pelos indivíduos.

Os cientistas passam a dar menor ênfase aos aspectos genéticos, ambientais e fatoriais da resiliência e passam a pesquisar como se estruturam os pensamentos e crenças diante de adversidades.

É a fase de ouro das abordagens cognitivas no campo da resiliência.

Se destacam na América do Norte e Europa pesquisadores como Frederic Flach, Martin Seligman, Andrew Shatté & Karen Reivich, Michael Ungar entre tantos.

No campo da psicanálise não se pode deixar de mencionar, por esta época, os trabalhos de Boris Cyrulnik, na França, que se focam nos estudos da resiliência durante a infância.

Ainda dentro da terceira onda na resiliência, na esteira de mudanças que também estavam ocorrendo nas abordagens das Terapias Cognitivas, que vieram com uma perspectiva mais empírica e com o centro de atenção na sensibilidade do indivíduo ao contexto em que está inserido, como também às suas peculiaridades psicológicas, George Barbosa propõe um modelo teórico no qual define resiliência como o pensar de modo estratégico, dentro de oito modelos de crenças determinantes do comportamento resiliente.

Nesta perspectiva a resiliência passa a ser compreendida como a resultante de padrões cognitivos, organizados a partir de emoções básicas como a raiva, a tristeza, a alegria e o medo.

Esta visão já contempla os avanços das neurociências cognitivas, alinhadas à quarta onda que está atualmente em curso – a resiliência embasada pelos novos conhecimentos das neurociências.



Citações:

Emmy E. Werner e Ruth S. Smith. (2001) Journeys from Childhood to Midlife – risk, resilience and recovery.

Garmezy et al (1996). Stress, Coping e Desenvolvimento em crianças (1983).

Edith H. Grotberg (1995). A guide to promoting resilience in children: Strengthening the human spirit. Early Childhood Development: Practice and Reflections Number 8. ISBN 90-6195-038-4. ISSN 1382-4813.

George Barbosa (Barbosa, GS), Marco Barbosa. (2020). Fundamentos epistemológicos na avaliação do risco e vulnerabilidade cognitiva em resiliência. Soc. Bras. de Resiliência. Página de Publicações.

George Barbosa (Barbosa, GS), 2020). Práticas favoráveis para a resiliência no trabalho em momentos difíceis. São Paulo: SOBRARE. Página de Publicações.